Vivemos tempos em que a informação circula com velocidade impressionante. Pacientes chegam aos consultórios munidos de diagnósticos prontos, tratamentos prescritos por buscadores online, opiniões de influenciadores e vídeos virais. No entanto, o acesso à informação não significa, necessariamente, compreensão. E é justamente nesta lacuna, entre saber e entender, que reside um dos maiores desafios da medicina contemporânea.
É preciso afirmar, com serenidade e firmeza, que nem tudo o que tem indicação precisa, de fato, ser realizado. Nem todo tratamento proposto trará benefício. Nem toda cirurgia é necessária. Às vezes, a cura pode ser mais agressiva, mais danosa, mais mutilante do que a própria doença que se busca combater. E é nesse momento que a lógica pura, fria, técnica, falha. Porque a medicina não é uma ciência exata, é uma arte humana, feita de nuances, escuta, sensibilidade e prudência.
O bom médico, muitas vezes, não é aquele que “faz tudo”, mas aquele que sabe o momento de não fazer. Que tem coragem de dizer “ainda não”, ou mesmo “não é necessário”. E, paradoxalmente, são justamente esses que muitas vezes passam despercebidos, enquanto os maus médicos, aqueles que dizem sempre “sim”, que oferecem soluções fáceis, rápidas e vendem promessas, acabam se tornando os mais requisitados, os mais celebrados, os mais famosos.
Isso acontece, em parte, porque vivemos uma era de impaciência. O valor da escuta, do tempo, da maturação das condutas, foi trocado pela rapidez dos resultados e pela ilusão de controle total sobre a saúde. Porém, ser médico exige mais do que conhecimento técnico. Exige formação sólida, anos de prática, humildade diante do que não se sabe e, principalmente, sabedoria para equilibrar ciência e consciência.
O bom médico é aquele que sabe que, às vezes, a melhor conduta é esperar, observar, acompanhar. É aquele que não se deixa seduzir por protocolos cegos, nem pelo apelo do modismo terapêutico. É quem entende que cada paciente é único, e que o cuidado verdadeiro mora na escuta atenta, na decisão compartilhada e na ética que coloca o ser humano, e não a doença, no centro do tratamento.
Dr. Paulo A. L. Curiati
Cirurgião Colorretal /Coloproctologista




