A Medicina em Risco: Um Alerta aos Pacientes

Com anos de prática médica e vivência na linha de frente do cuidado, sinto que a boa medicina está sob ameaça, e talvez já em estado crítico. O que antes era uma profissão guiada por princípios éticos, científicos e humanos vem sendo substituído por uma lógica perversa de mercado, onde o paciente passou a ser visto como commodity, um recurso explorado em nome de metas financeiras, e não de saúde.

A formação médica tem perdido profundidade. É verdade que há um número crescente de médicos com preparo técnico insuficiente, o que compromete a qualidade da assistência. No entanto, o problema vai além da inexperiência. Mesmo profissionais bem formados, em sua maioria comprometidos, acabam sendo empurrados para práticas distorcidas, muitas vezes realizando procedimentos desnecessários apenas para manter sua posição em um hospital ou garantir a remuneração mínima frente à desvalorização da profissão.

Hoje, os honorários médicos são cada vez mais reduzidos. Hospitais, pressionados por operadoras que pagam cada vez menos, repassam essa pressão aos profissionais, que precisam produzir mais, não necessariamente com base na real necessidade clínica, mas para sustentar uma engrenagem econômica que ignora o paciente e prioriza o lucro.

Essa ciranda é orquestrada por gestores que veem a saúde como negócio, o paciente como número e o médico como ferramenta produtiva. O resultado é a desumanização do cuidado, o enfraquecimento da relação médico-paciente e o risco crescente de erros, excessos e condutas motivadas por interesses alheios à ética médica.

Por isso, deixo aqui um alerta sincero aos pacientes. Não se deixem guiar por promessas fáceis ou perfis bonitos em redes sociais. A boa medicina ainda existe, mas exige tempo, escuta, preparo e integridade. Busquem opiniões embasadas, valorizem médicos recomendados por outros profissionais, e sejam protagonistas do seu próprio cuidado.

O momento é de reflexão. A saúde não pode ser tratada como mercadoria. Precisamos resgatar, juntos, a medicina que cuida, que pensa, que respeita. Antes que ela desapareça.

Paulo Antonio Lemos Curiati

Coloproctologista

CRM 109979

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