Sou médico, uso tecnologia todos os dias no meu trabalho, e posso dizer sem hesitar: sou a favor dela. A tecnologia salva vidas, amplia diagnósticos, nos conecta a informações que há poucas décadas eram inimagináveis. Angiotomografias, ressonâncias, algoritmos de inteligência artificial, aplicativos que organizam prontuários e calculam scores de risco, tudo isso é maravilhoso e faz parte da medicina moderna.
Mas, apesar de todo esse arsenal tecnológico, nada supera a potência do cérebro humano e a habilidade das nossas mãos. É no olhar atento, na escuta cuidadosa e no exame físico bem-feito que muitas vezes surge o diagnóstico que nenhuma máquina apontou. É na sutileza do raciocínio clínico, treinado ao longo de anos de estudo e prática, que conseguimos diferenciar o que realmente importa do que é apenas “ruído” em meio a tantos dados.
Por isso, acredito que precisamos, sim, investir em tecnologia, mas sem jamais terceirizar para ela a nossa responsabilidade de pensar. Precisamos priorizar nosso conhecimento, nossa habilidade manual e nossa capacidade de enxergar o paciente como um todo, e não como um conjunto de exames ou números em um monitor.
E quando falamos de tratamento, essa mesma lógica se aplica: a realidade é que tratar a causa é o único caminho real e eficaz. Propostas milagrosas, modismos e soluções fáceis podem ser sedutoras, mas não resolvem o problema e podem até trazer danos. Para não cairmos nessas armadilhas, precisamos estudar continuamente, conhecer as evidências, entender profundamente o que cada paciente necessita, e lembrar que a melhor tecnologia do mundo ainda não substitui empatia, escuta e raciocínio clínico.
A medicina do futuro que desejo é aquela em que tecnologia e conhecimento humano caminham juntos, lado a lado, com respeito mútuo. Porque a tecnologia é nossa aliada, mas nós, médicos, somos e sempre seremos insubstituíveis quando colocamos nossa mente e nosso coração no cuidado do outro.
Paulo Antonio Lemos Curiati
Cirurgião coloproctologista
CRM 109979
